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sexta-feira, 18 de junho de 2010

PROPAGANDAS DE BEBIDAS ALCOÓLICAS AINDA VIOLAM REGRAS DO CONAR

Pesquisa Aponta que Propagandas de Bebidas Alcoólicas Ainda Violam Regras do Conar. Quatro anos após a primeira análise do controle ético e auto-regulamentação na televisão, estudo aponta que nada mudou.

As regras de publicidade e propaganda de cerveja das marcas mais populares entre jovens continuam a violar um número significativo de regras do Conar (Conselho Nacional de auto-regulamentação Publicitária), de acordo com uma pesquisa realizada pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (Uniad) da UNIFESP.

Das cinco propagandas de cerveja das marcas mais populares entre a população vulnerável às mensagens publicitárias – crianças e adolescentes –, que foram veiculadas no verão de 2009/2010, todas desrespeitaram as regras do código brasileiro de auto-regulamentação publicitária. Das 16 regras incluídas no estudo, 11 foram violadas segundo avaliação de 31 especialistas em temas relacionados com crianças e adolescentes nas áreas de saúde, ensino e direito e 110 estudantes secundaristas de duas escolas públicas no Estado de São Paulo.

De acordo com a psiquiatra e pesquisadora da Uniad, Ilana Pinsky, os resultados da nova avaliação mostram que nada foi feito desde a divulgação do primeiro estudo, realizado há quatro anos, mostrando o problema de "quebra de regras". "Essas violações sistemáticas sugerem a ineficácia deste tipo de controle, já que não impede propagandas direcionadas à criança e adolescentes, tão pouco, que incentivam o consumo abusivo e irresponsável do álcool", afirma.

Ilana também explica que o estudo mostrou que a metodologia desenvolvida na UNIFESP para a avaliação das regras do Conar é confiável, quando utilizada por públicos diversos, podendo ser utilizada para a criação de um monitoramento independente das propagandas alcoólicas na televisão brasileira.

Consenso na avaliação

A comparação dos resultados entre a avaliação dos adolescentes e a dos especialistas, quanto às regras violadas, foram semelhantes. Entre as regras desrespeitadas, foram citadas:

1. Regra geral: (...) deverá ser estruturada de maneira socialmente responsável, sem se afastar da finalidade de difundir a marca, vetados, por texto e imagem, direta ou indiretamente, inclusive slogan, o apelo imperativo de consumo e a oferta exagerada de unidades do produto(...)

2. Não terá crianças e adolescentes como público-alvo, devendo adotar cuidados especiais na elaboração de estratégias mercadológicas e publicitárias. Assim:

a. (...) qualquer pessoa que apareça deverá ser e parecer maior de 25 anos de idade;

b. (...) o conteúdo dos anúncios deixará claro tratar-se de produto de consumo impróprio para menores; não se utilizará uniforme de esporte olímpico como suporte de divulgação da marca;(...)

3. Princípio do consumo com responsabilidade social: a publicidade não deverá induzir ao consumo exagerado ou irresponsável. – Neste caso, dos 12 tópicos incluídos nesta regra, 11 foram violados, como a proibição de apelos à sensualidade; de cenas que sugerem a ingestão do produto; do consumo do produto como sinal de maturidade, êxito profissional ou social; entre outras.

O COMÉRCIO DE CRACK

Folha de São Paulo - Drauzio Varella

A dependência química não é mero hábito de pessoas sem força de vontade para livrar-se dela

A DISSEMINAÇÃO vertiginosa da epidemia de crack deixa a sociedade perplexa. Tememos por nossos filhos, pela violência que caminha no rastro da droga, lamentamos o destino dos farrapos humanos que perambulam pela cidade, mas nos sentimos impotentes para lidar com problema social de tamanha complexidade.
Diante desse desafio, a única saída que fomos capazes de encontrar é a de reprimir. Partimos do princípio que se prendermos todos os traficantes, as drogas ilícitas desaparecerão ou chegarão aos centros urbanos a preços proibitivos.
Alguém já disse que todo problema complexo admite uma solução simples; sempre errada. Pretender acabar com o crack por meio da repressão é ingenuidade. Gastamos fortunas para conseguir o quê? Cadeias lotadas, polícia corrompida, violência urbana, judiciário sobrecarregado, traficantes poderosos, mortes de adolescentes e droga barata. Barata como nunca.

Tratar o uso de crack como simples caso de polícia é política pública destinada ao fracasso. É enxugar gelo, como disse um delegado.
Os jornalistas Mario Cesar Carvalho e Laura Capriglione publicaram neste jornal (caderno Ilustríssima de 23/6/10) uma das análises mais brilhantes que já li sobre a epidemia de crack no Brasil. Para eles, é impossível compreender como uma droga com tal poder destrutivo se espalhou pelo país sem analisar os dados econômicos envolvidos em seu comércio. Estão certíssimos.

Citando dados da Polícia Federal enviados à ONU, os autores fazem a seguinte análise: "um grama de cocaína vale R$ 6 no atacado e R$ 25 no varejo, gerando um lucro de 300%. O lucro do crack é menor, de 200% -o traficante graúdo pega o grama por R$ 4 e o revende por R$ 12. O que faz toda a diferença do crack é o tamanho da clientela em potencial. As classes C, D e E correspondem a 84% da população do país (162 milhões de pessoas)..."
Segundo os dois jornalistas, as propriedades farmacológicas da cocaína fumada sob a forma de crack, causadoras da sensação imediata de prazer intenso que leva ao uso compulsivo, e a liquidez espantosa que o crack encontra nas ruas completam o quadro.
Há mais um detalhe a considerar. No comércio de qualquer mercadoria, os custos para transportá-la do centro de produção ao de consumo são cruciais para o sucesso das vendas. No caso das drogas ilícitas, esse gasto é irrelevante.

Se um traficante pagar 2 mil dólares por quilo de cocaína pura na Bolívia, e um piloto cobrar a quantia absurda de 500 mil dólares para transportar 500 quilos para os Estados Unidos num voo clandestino, que diferença fará? O preço final aumentará apenas 1.000 dólares por quilo, que será vendido por 30 mil dólares em Nova York.
É impossível eliminar do mercado um produto com essas características, comercializado por capitalistas selvagens que não recolhem impostos nem reconhecem direitos trabalhistas, com poder suficiente para corromper a sociedade e condenar à morte os que lhes prejudiquem os negócios.
Veja os americanos, leitor. Investiram na guerra contra as drogas mais do que a soma gasta por todos os países reunidos, e qual foi o resultado? São os maiores consumidores do mundo.

O que fazer, então? Cruzar os braços?

A forma mais sensata de enfrentá-lo é reduzir o número de usuários. Dependência química não é mero hábito de pessoas sem força de vontade para livrar-se dela, é uma doença grave que modifica o funcionamento do cérebro. Nós, médicos, devemos confessar nossa ignorância: não sabemos tratá-la porque nos falta experiência clínica e conhecimento teórico. Só recentemente a comunidade científica começa a se interessar pelo tema.

É preciso oferecer ao craqueiro uma alternativa de vida para tirá-lo das ruas. Além disso, criar novos centros de recuperação formados por equipes multidisciplinares de profissionais bem pagos, dispostos a aprender a lidar com os dependentes, a conduzir pesquisas e a definir estratégias baseadas em evidências capazes de ajudar os inúmeros usuários dispostos a escapar do inferno em que vivem.

O dependente de crack deve receber apoio social e deve ser tratado com critérios semelhantes aos que usamos no caso dos hipertensos, dos diabéticos, dos portadores de câncer, Aids e de outras doenças crônicas.

EMBRIAGUEZ PRECOCE

Por Fábio de Castro
 
Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram, nesta segunda-feira (7/6), um levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas privadas paulistanas.

O estudo – que contou com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxilio à Pesquisa Regular – teve a participação de 5.226 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas.

De todas as drogas o álcool se mostrou, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa, enquanto 10% haviam consumido tabaco, a segunda droga mais prevalente. O álcool é também a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 12,5 anos. O primeiro consumo de álcool ocorreu em casa para a maior parte dos entrevistados: 46%.

Segundo a coordenadora do estudo, Ana Regina Noto, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) da Unifesp, um dos dados que mais chamaram a atenção no levantamento é que, no ensino médio, 33% dos alunos consumiram álcool no padrão conhecido como binge drinking – ou “beber pesado episódico” – no mês anterior à pesquisa.

O comportamento binge se caracteriza pelo consumo, na mesma ocasião, de cinco ou mais doses de 14 gramas de etanol – valor correspondente a cinco latas de cerveja (ou copos de vinho ou doses de bebida destilada).

“O estudo revelou padrões de consumo que merecem atenção entre os estudantes da rede particular, em especial em relação ao álcool. Um terço dos alunos do ensino médio relatou prática de binge drinking no mês anterior ao estudo, o que é uma porcentagem extremamente elevada. Esse comportamento traz alto risco, pois o adolescente embriagado fica em situação de vulnerabilidade em vários aspectos da vida, favorecendo brigas, acidentes de trânsito e sexo desprotegido, por exemplo”, disse Ana Regina à Agência FAPESP.

De acordo com a pesquisadora, o estudo indica que ações preventivas contra drogas em ambiente escolar devem ser iniciadas em idades precoces, com ênfase em drogas lícitas como o álcool e o tabaco. E, no ensino médio, o padrão binge de consumo deve ter atenção especial.

“Muitas vezes as campanhas preventivas são focadas em drogas como maconha e cocaína. Mas essas são consumidas em faixas etárias mais altas e contextos sociais diferentes. O estudo mostrou que cerca de 80% dos estudantes do ensino fundamental e 70% do ensino médio nunca usaram qualquer droga exceto álcool e tabaco”, disse Ana Regina.

Mesmo entre os adolescentes que utilizaram outras drogas, nada se aproximou do padrão de consumo caracterizado pelo comportamento binge relacionado ao álcool. “Se há uma droga que representa risco para o adolescente é, sem dúvida, o álcool e esse comportamento de se embriagar”, afirmou.

O estudo também identificou fatores de risco e de proteção ligados ao consumo das drogas. No caso do comportamento binge, os principais fatores de risco foram faixa etária mais elevada, maior poder aquisitivo, maior número de saídas noturnas e presença de modelos em casa.

A idade média de início de uso das substâncias psicoativas ficou em 12,5 anos para o álcool, 13,5 anos para o tabaco e para calmantes, 14 anos para inalantes e 14,5 anos para maconha, cocaína e estimulantes tipo anfetamina (ETA).

O Cebrid, fundado em 1978, realiza desde a década de 1980 levantamentos epidemiológicos sobre o consumo de drogas entre estudantes da rede pública, mas, até agora, havia uma lacuna do conhecimento em relação à rede privada. O estudo atual também é o primeiro a considerar o binge drinking e a envolver os fatores de risco.

“Os resultados mostram que a proporção de estudantes que relatou já ter consumido substâncias psicoativas é semelhante à registrada em estudos anteriores com alunos da rede pública de ensino, mas alguns padrões de consumo apresentaram diferenças. A frequência de consumo de álcool foi maior nas escolas públicas. Mas nas particulares, em compensação, quando os estudantes bebem estão mais sujeitos ao exagero”, disse Ana Regina.

O estudo indicou que o comportamento binge drinking no mês anterior à pesquisa estava mais presente entre os meninos (26,8%), mas também foi elevado entre as meninas (21,7%). Cerca de 7,3% dos meninos e 5,4% das meninas relataram ter bebido no padrão binge de três a cinco vezes no último mês. “Isso sugere que a prática é comum entre adolescentes”, disse Ana Regina.

Vários fatores se mostraram associados à prática de binge drinking no mês que antecedeu a pesquisa, segundo o estudo. Entre alunos do ensino médio, por exemplo, morar com alguém que se embriaga aumentou duas vezes a chance de ocorrência desse comportamento. Sair à noite uma vez por semana aumentou as chances em 9,5 vezes. Sair à noite todos os dias aumentou as chances de comportamento binge em 20 vezes.

“Isso não quer dizer que se deva prender o adolescente em casa. Mas devemos dar atenção à negociação de limites e aos exemplos familiares. Esses fatores de risco não são causais, apenas indicam uma correlação. O adolescente que arrisca no consumo de drogas também se arrisca em outros aspectos da vida. As ações preventivas não devem focar apenas nas substâncias, mas o desenvolvimento do adolescente em relação a comportamentos agressivos, hiperatividade e dificuldades de aprendizado, por exemplo”, afirmou a pesquisadora do Cebrid.

Outros fatores de risco para o comportamento binge, segundo a pesquisa, foram o sexo (o risco aumenta em 70% entre os meninos), idade (50% para cada ano a mais), pais separados (30% mais risco), não confiar em Deus (40%) e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil.

“Apesar de a condição socioeconômica ter sido um fator de risco em relação ao binge drinking, é impressionante a semelhança entre os padrões de consumo e os tipos de drogas presentes nas escolas privadas e públicas. Notamos grandes diferenças com resultados de outros países, mas os estudos feitos aqui sugerem que há uma cultura brasileira de consumo de drogas bastante bem definida”, disse.

Maconha e cocaína

Segundo o estudo, o primeiro consumo de álcool ocorreu principalmente na casa do adolescente (46%), na casa de amigos (26%) e em casas noturnas (15%). A bebida foi oferecida pela primeira vez por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas uma parcela de 21% respondeu “peguei sozinho”. Os meninos deram preferência à cerveja e as meninas às bebidas tipo “ice”, batidas, caipirinha e vinho.

O tabaco, assim como o álcool, esteve mais associado a alunos do ensino médio: 33% dos alunos experimentaram alguma vez na vida, contra 14,8% do ensino fundamental. Os fumantes regulares (que consomem tabaco mais de 19 dias no mês) correspondem a cerca de 4% dos estudantes do ensino médio e menos de 1% do ensino fundamental. Meninos e meninas fumam em quantidade e frequência semelhantes.

O consumo de inalantes apresentou diferença considerável de gênero: 16,2% dos meninos e 11% das meninas experimentaram alguma vez na vida. O padrão de consumo mais comum foi de um a cinco dias por mês. No ensino fundamental, os tipos de inalantes preferidos foram o esmalte e acetona (41,7%) e gasolina (38,4%). Já entre os estudantes do ensino médio, os mais comuns foram os inalantes ilegais: “lança” e “loló” (71,9%).

“O estudo indica diferenças de gênero e escolaridade em relação ao consumo de maconha. Cerca de 5% dos meninos fumaram a droga no mês anterior à pesquisa, contra 2,5% das meninas. A maior prevalência do uso de maconha esteve entre os estudantes do ensino médio: 16% já utilizaram alguma vez na vida, contra 3,8% do ensino fundamental”, disse Ana Regina Noto.

Cerca de 3,2% dos meninos experimentaram cocaína pelo menos uma vez na vida. Segundo o estudo, a droga parece ser mais comum entre os meninos, mas o número de observações é baixo demais para garantir a validade dos dados.

O consumo de calmantes e anfetaminas, por outro lado, foi mais comum entre as meninas: 7,5% utilizaram calmantes alguma vez na vida, contra 3,2% dos meninos. No ano anterior à pesquisa, essas substâncias foram usadas sem prescrição médica por 5% das meninas e 2,5% dos meninos. O uso de calmantes esteve associado à família. Na primeira ocasião de consumo, a droga foi geralmente oferecida por algum familiar (50%). “Peguei em casa” foi a resposta de outros 38%.

Os adolescentes afirmaram ainda ter utilizado, pelo menos uma vez na vida, drogas como o ecstasy (4,3% dos meninos e 1,7% das meninas), benflogin (2%), anabolizantes (2,5% entre os meninos e 0,2% entre as meninas) e LSD ou chá de cogumelo (2% dos meninos e 1% das meninas).

O consumo “pelo menos uma vez na vida” – que segundo os pesquisadores não caracteriza o adolescente como usuário da droga – foi de 80% para o álcool, 24,6% para o tabaco, 13,6% para inalantes, 10,7% para maconha, 5,3% para calmantes, 3,6% para ETA e 2,2% para cocaína.

Mais informações: (11) 2149-0161 (Cebrid).

COMO AFASTAR OS JOVENS DO MUNDO DAS DROGAS - Trecho da Revista Época

O crack – a droga mais perigosa da atualidade – invadiu a classe média. Uma pesquisa inédita mostra que as famílias não sabem onde obter ajuda. O que fazer para salvar os dependentes
Revista Época - Rodrigo Turrer e Humberto Maia Junior

Confira a seguir um trecho dessa reportagem que pode ser lida na íntegra na edição da revista Época de 12/junho/2010.

DEGRADAÇÃO

A montagem sobre a foto de um modelo simula os efeitos de alguns anos de uso de drogas

Foram quatro anos sob os efeitos de maconha, cocaína, ácido lisérgico, ecstasy, crack e até chá de fita cassete – uma “droga” a que os dependentes recorrem para suportar crises de abstinência. A triste viagem de Renan começou na casa da família, num bairro de classe média em São Paulo, e o levou ATÉ a favela Paraisópolis, a segunda maior da capital paulista.

“Lá eu estava onde eu queria, com a galera, e me drogava direto”, diz. Seus pais, Alda e Eli, haviam tentado impor limites para afastá-lo da dependência. Primeiro, conversaram. Depois, proibiram o filho de usar o carro, cortaram a mesada, estabeleceram horário para que ele chegasse em casa. Eles não eram novatos no assunto. Antes de Renan, o caçula da família Larizzatti, outros dois filhos do casal haviam passado por problemas semelhantes. “Com três filhos usando drogas, vi que era o fundo do poço”, diz Alda. O casal decidiu internar o mais novo, então com 22 anos. Antes de ser levado para uma clínica de desintoxicação, Renan fez uma ameaça aos pais: “Quando sair, eu mato vocês”. Três anos e dois meses depois do último contato com as drogas, Renan ajuda a família na casa lotérica que os sustenta. “Hoje, se eu matar meus pais, só se for de amor”, afirma.

Histórias como a dos Larizzattis ocorrem em muitas famílias. Às vezes, porém, o desfecho é trágico. Em 2009, a consultora aposentada Flávia Costa Hahn, de 60 anos, moradora de um bairro nobre de Porto Alegre, matou seu único filho, Tobias Hahn, de 24 anos. O rapaz consumia crack desde os 18 anos. Em abril do ano passado, depois de passar três noites em claro fumando crack, Tobias voltou para casa para pedir dinheiro. Flávia conta que discutiu com o filho, foi agredida e, para tentar se defender, pegou um revólver da coleção de armas do marido. A arma disparou e atingiu Tobias no pescoço. Ele morreu na hora. Em outro caso dramático, o músico Bruno Kligierman, de 26 anos, um jovem de classe média alta morador da Zona Sul do Rio de Janeiro, sufocou até a morte a amiga Bárbara Calazans, de 16. Ele havia consumido crack a noite toda. Seu pai, o poeta Luiz Fernando Prôa, o entregou à polícia.

Para dependentes de drogas, raramente há uma saída fácil. Internar o filho drogado, como fizeram os pais de Renan, é um recurso extremo, que até pouco tempo atrás era definido como exagerado. Para os Larizzattis, a decisão provou ser correta. Não só porque ele venceu a dependência. “Os pais de hoje têm medo de agir, estabelecer regras ou proibir”, afirma Luiz Fernando Cauduro, vice-presidente da ONG Amor Exigente, que ajuda famílias nessa situação. “Esse medo tem de ser rompido. Ele leva a família a não tomar uma atitude – e isso pode tornar o caso crônico.”

Medidas exageradas podem levar o usuário de drogas a ficar mais tempo nesse universo. Mas o que fazer quando mesmo uma atitude mais dura da família não basta? Em 2005, a funcionária pública Sônia (nome fictício) descobriu que seu filho mais novo, então com 13 anos, era usuário de drogas. Sônia, o marido e outros dois filhos viviam num condomínio de classe média alta no interior paulista. O caçula havia começado a fumar maconha aos 11 anos, com amigos. Seu rendimento escolar despencou, ele trocou de amizades e se distanciou dos irmãos. “Achei que era um problema da idade, da adolescência”, diz Sônia. “Só percebi que eram as drogas quando antigos amigos dele me falaram que ele estava andando com uma turma barra-pesada.” Sônia procurou ajuda onde pôde. “Pesquisei na internet, em serviços públicos, paguei psicólogos, terapias, até a igreja eu procurei”, diz. A família decidiu tirar o filho da escola para distanciá-lo das amizades e vigiá-lo de perto. Ficava sob os cuidados do pai, vendedor de joias, que o levava até nas viagens de negócios. Em 2007, Sônia internou o filho em uma clínica para dependentes ligada a religiosos. O tratamento era baseado mais em ações espirituais do que terapêuticas, e não teve resultado. “Foi um tiro no pé, havia gente mais velha, e ali ele aprendeu tudo sobre as drogas.” Sônia decidiu então mudar de cidade. “Queria afastá-lo de tudo o que havia acontecido.” No começo, a estratégia deu certo: o filho passou um ano sem se drogar, começou a trabalhar em um pet shop e pensava em voltar a estudar. Mas houve uma recaída. Hoje, aos 17 anos, o caçula de Sônia está internado. Pela segunda vez, ele tenta largar o vício.

Os resultados distintos das experiências de Sônia e da família Larizzatti no combate às drogas mostram que não existe um método infalível. A internação numa clínica só deve ser considerada quando outras abordagens falham. “Os pais devem saber conversar com os filhos”, diz a psicóloga Lulli Milman, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), autora do livro Cresceram!!!: um guia para pais de adolescentes (Editora Nova Fronteira). “Quando descobrem que o filho fumou maconha na festa de sábado, alguns pais amplificam a questão e tratam o garoto como se fosse um traficante”, diz. Para ela, uma medida exagerada pode levar o filho a ficar por muito mais tempo no universo das drogas. Rejeitado em casa, ele pode buscar lugares onde seja mais aceito – ainda que esses locais coloquem sua vida em risco. “Pais que adotam esse discurso dogmático, sem muita relação com a realidade, tendem a se afastar dos filhos e ficar desacreditados por eles”, diz Lulli.

“A maior parte das pessoas faz uso consciente de drogas ilícitas da mesma forma que muitas pessoas usam álcool”, diz o antropólogo Edward MacRae, que também é pesquisador do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “Eu frequento lugares em que vão jovens. Vejo que usam maconha, e isso não afeta seu desempenho de forma tão perceptível como ocorre com o álcool.” Nem todo usuário esporádico, porém, é capaz de abrir mão do consumo quando bem entender. “O uso recreacional é como uma roleta-russa”, diz Ruben Baler, pesquisador do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas (Nida, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. Para ele, é impossível saber de antemão se alguém se tornará dependente ou não. O uso de drogas como válvula de escape aumenta na proporção da incapacidade dos jovens de aceitar a frustração. Mas muitos usuários não percebem quanto a droga se tornou parte de sua rotina até que tenham se tornado dependentes.

CRACK - O TRATAMENTO COM QUALIDADE É POSSÍVEL - Mitos e verdades sobre o crack


FUTEBOL, PATRIOTISMO E CERVEJA

Por Lilia Diniz. Observatório da Imprensa

Copa do Mundo, a maior festa esporte no Brasil. Em frente à TV, milhões de telespectadores de todas as idades torcem entusiasmados pela seleção brasileira. Dentro dos gramados, nossos craques vendem saúde e... cerveja. Em 2010, a marca Brahma financia quatro jogadores brasileiros e é uma das patrocinadoras oficiais Copa do Mundo realizada na África do Sul. A venda da bebida é lícita e o hábito de acompanhar os jogos de futebol com cerveja é um traço da cultura brasileira, mas é aceitável que um produto cujos malefícios são comprovados cientificamente associe a sua marca à pratica do esporte?

O Observatório da Imprensa exibido na terça-feira (15/6) pela TV Brasil discutiu a publicidade de bebida alcoólica em eventos esportivos com a presença de dois convidados no estúdio de São Paulo. Erich Beting, diretor da Máquina do Esporte, empresa de cobertura dos negócios do esporte no Brasil e comentarista do canal BandSports é consultor editorial da Universidade do Futebol. Ronaldo Laranjeira é professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo e coordenador do Instituto Nacional de Políticas do Álcool e Drogas (INPAD) do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq). É PhD em psiquiatria pela Universidade de Londres.

O jornalista e apresentador Alberto Dines explicou que a produção do Observatório entrou em contato com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para saber como a entidade avalia a associação da seleção brasileira com uma marca de cerveja e a assessoria de imprensa garantiu que o time não tem nenhuma bebida alcoólica entre seus patrocinadores. Dines ponderou que a resposta é "curiosa", uma vez que o treinador Dunga e outros jogadores aparecem em comerciais com a camisa amarela.

Patrocina ou não?

O mediador do programa destacou que a explicação fica mais inconsistente porque o site da Brahma assegura que a marca é uma das patrocinadoras oficiais da seleção. O Conselho de Autorregulamentação Publicitária (Conar) também foi convidado para o debate, mas não pode participar e enviou uma nota (ver íntegra abaixo) na qual afirma que a entidade veta a associação de marcas de bebidas alcoólicas a uniformes de esportes olímpicos e quaisquer apelos que sensibilizem diretamente o público menor de idade.

Em editorial, Alberto Dines ressaltou que quem manda fora dos gramados é a cerveja. "O anúncio de cerveja não é uma peça subliminar, disfarçada: o anúncio de cerveja é concebido para estimular diretamente o consumo da bebida, bebida alcoólica. E, ao associá-la à sensação de alegria e triunfo, emite-se uma mensagem clara: seja um vitorioso também, tome a sua cervejinha ao lado de uma estonteante morena brasileira ou loura importada." Dines sublinhou que o Conar só obedece a uma lei: "crescer sem controles e sem regulação".

A reportagem exibida pelo Observatório entrevistou Robert Galbrait, repórter especial da revista Meio e Mensagem. Galbrait explicou que em 2006 "toda a visibilidade" era concentrada na marca de cerveja Budweiser. Mas, depois da última Copa, o mercado das cervejas ficou mais complexo e a Ferderação Internacional de Futebol Associado (Fifa) precisou mudar o contrato. "A Inbev Anheuser-Busch virou o grande conglomerado mundial das cervejas, de maneira que o marketing desta nova corporação decidiu rever o acordo com a Fifa para fazer com que todas as suas marcas pudessem ser exibidas com este contrato de patrocínio", explicou.

Seleção guerreira

De acordo com o novo contrato, as marcas exibidas nas placas dos estádios durante os jogos serão as comercializadas nos países que estão em campo. Com isso, a Brahma pode entrar no time das marcas que serão exibidas na Copa. No Brasil, a marca de cerveja lançou sua campanha antes do início do torneio. Na peça publicitária veiculada pela televisão, Dunga e a seleção eram apresentados como "guerreiros".

Para Eduardo Tironi, diretor-executivo de Mídias Digitais do diário Lance!, o futebol brasileiro é "mais artístico" e, por isso, bem diferente do apresentado na propaganda. Tironi avalia que o fato de o técnico Dunga – que na sua vida pessoal e na atuação como comandante da seleção sempre buscou valorizar aspectos como "retidão, compromisso e patriotismo" – fazer propaganda de cerveja o deixa em uma posição contraditória. "Ao mesmo tempo em que o Dunga não aceita indisciplina em seu grupo, quer dedicação total, quer treinamento, exige ao máximo de seus comandados, ele faz propaganda de um produto que vai um pouco na contramão disso que ele prega", avaliou.

O desembargador Aloísio de Toledo César se disse "horrorizado" com o que acompanha pela televisão e criticou o fato de os jogadores, e principalmente o técnico Dunga, receberem altas quantias para fazer publicidade de bebida alcoólica. Já Robert Galbrait minimizou o impacto da publicidade: "Sinceramente, eu não consigo acreditar que uma criança vá ver uma marca – Brahma – e associar com o consumo de álcool".

Ilana Pinsk, vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), avalia que a ligação do álcool com o esporte "não tem sentido" porque uma pessoa que consuma exageradamente o produto não terá capacidade de apresentar um bom desempenho no esporte.

A palavra da Ambev

Milton Seligman, diretor de relações corporativas e comunicação da Companhia de Bebidas da Américas (AmBev), disse que a empresa assina os comerciais da Brahma, que é patrocinadora, mas no uniforme da seleção usa a marca de um refrigerante. "Cervejas patrocinam times de futebol no mundo todo. No caso da companhia, nós patrocinamos a seleção brasileira e a seleção argentina. Na verdade, há muitos anos, a Quilmes patrocina a seleção da argentina e há dez anos a Ambev patrocina a seleção brasileira. Na camisa do Brasil, à exceção da grande maioria dos países e seguindo rigorosamente a autorregulamentação, nós usamos a marca Guaraná Antártica", ponderou.

Seligman destacou que as pesquisas mostram que o futebol – tanto em termos de audiência pela TV quanto em relação ao público que assiste às partidas nos estádios – é um esporte acompanhado majoritariamente por adultos; por isso, não há problema em fazer propaganda de álcool ligada ao futebol. Sobre o horário em que os comerciais são veiculados, Seligman afirmou que a bebida é anunciada em programas dirigidos ao público adulto, independente da hora em que são transmitidos. O uso de ídolos do esporte em comerciais de bebida é válido, na opinião de Seligman, desde que a publicidade não seja dirigida diretamente ao público infantil ou aos jovens.

No debate ao vivo, Dines pediu a opinião do psiquiatra Ronaldo Laranjeira sobre as afirmações de que as crianças não associam a publicidade de uma marca de cerveja ao consumo de álcool e que o público do futebol é majoritariamente adulto. "É surpreendente. Eu não sei em que mundo essas pessoas vivem, em que bombardear todos os dias as nossas crianças com propaganda de cerveja não tem uma influência no seu comportamento", criticou Laranjeira. Na sua opinião, as pessoas que associam os símbolos nacionais com a propaganda de cerveja estão cometendo um crime contra os valores da sociedade brasileira, que se expressam claramente em um momento como a Copa do Mundo.

O papel do governo

Laranjeira chamou a atenção para o fato de que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou recentemente uma resolução segundo a qual, dentro das políticas mundiais de combate ao consumo excessivo de álcool, é preciso restringir ao máximo as propagandas de cerveja. Estas causam impacto maior na parcela da população que ainda não desenvolveu um padrão de consumo: as crianças e adolescentes. Para Laranjeira, o Ministério da Saúde poderia utilizar a resolução da OMS para promover um debate público sobre o tema. Na visão do psiquiatra, o ministério perdeu a chance de ter um papel de liderança e de se opor à "venda de valores nacionais pela CBF".

Dines perguntou a Erich Beting se a publicidade de bebida alcoólica poderia ser banida do futebol da mesma forma como, no passado, a propaganda de cigarro foi proibida em eventos automobilísticos. Beting disse que o caminho é o próprio esporte negar este tipo de comercial e se colocar em uma posição de soberania. Segundo o jornalista, a CBF fatura mais de 200 milhões de reais em publicidade e o contrato com a AmBev não corresponde a 10% desta soma – portanto, a seleção brasileira não dependeria necessariamente deste patrocinador.

"Cabe ao esporte e às próprias empresas de comunicação não aceitarem esse tipo de publicidade ou colocar-se a serviço desse tipo de indústria. Perde-se um pouco de dinheiro, mas, sem dúvida, ganha-se em retorno de imagem, em retorno institucional e, mais do que isso, o apelo da população que é contra este tipo de associação", avaliou.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

FÓRUM DE PREVENÇÃO AO USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

No dia 24/06, às 7:30, quinta-feira*, será realizado um Fórum, objetivando discutir a questão da dependência química no município e apresentar o projeto da vigilância epidemiologia às instituições parceiras/sentinelas no sentido de propor um cronograma coletivo de execução.
Tema do debate: Os desafios da intersetorialidade na D.Q, dentro da perspectiva da Politica Nacional.
Local do Fórum: UVA; MDC Sala 02 ou auditório do ECOA


CRONOGRAMA07:30- Credenciamento

08:00- Apresentação cultural (Teatro da escola sobre o tema)
08:30- Composição da mesa com autoridades locais (Esporte, cultura, Educação, Segurança e cidadania, Fundação de Ação Social, STDE, Primeira Dama) e Convidados para o enriquecimento das discussões (Marcelo Brandt e Paulo Quinderé)
10:00- Apresentação do projeto da Vigilância epidemiologica

10:30- Debate

11:30- encaminhamentos

12:30- EncerramentO